terça-feira, 16 de outubro de 2012

Rio Vermelho

  De novo, e de novo, caiu no mesmo buraco, tropeçou na mesma pedra, ralou o mesmo joelho, machucou o mesmo braço. As pernas continuavam a guiá-la em direção aos espinhos, estava cansada de saber que não era por este caminho, mas os membros não respondiam e corriam em direção ao que machuca.
    Ela não soube controlar impulsos, eles se misturaram  com vontades que não deveriam existir.Ela se jogou num desejo, achou que poderia ser bonito. A realidade, confundia-se com a fantasia da pequena, entregou-se como mulher, mas com pensamento ingenuo de menina que ainda crê em contos de fadas.
 Quando acabou, ele se levantou e saiu , mal dirígio lhe a palavra apenas disse "Tchau" . Assim como o vento que passa, o rapaz se foi .
  Ela se jogou na cama de bruços ouvindo aquela voz que morava dentro de si mesma "Você sempre soube que não deveria ... Sabia que era errado , sabe que quem ficará sangrando é você. Assim como da outra vez" O cheiro dele estava na cama, no quarto, em seu corpo, a garota espirrou perfume no lugar inteiro, o que só fez piorar, os perfumes se misturam e por uma maldição do cérebro o dele era mais forte. Não aguentou.
 As lágrimas rolaram, escorriam junto com o sentimento de raiva, medo, tristeza e solidão.
  - Você á masoquista garota?
 Perguntou a si, enquanto afundava em uma cascata de água quente, a música alta que cortava a sensação de tristeza, mas não a de culpa e nem a de raiva. O som era quase suicida.
   -Depois de tudo o que aconteceu, não está bom ? Não aprendeu.
Lagrimas mesclavam-se com a água do chuveiro. Com as unhas esfregava o corpo, arranhando-se ,criando marcas avermelhadas, queria tirar o cheiro dele que impregnava. Sentia nojo, talvez dela mesma.
 O choro se tornara incontrolável,  a raiva cada vez maior, flashs das cenas , do momento, do depois, de tudo. O ódio crescia dentro dela.
 Ela era tão pequena para aguentar tanto rancor, saiu de baixo d'água e encarou um inimigo, talvez o pior deles O ESPELHO.
Não conseguia se olhar.
 Com um soco separou o em pedaços, agora se via em fragmentos, desfigurada. Apanhou um caco e se olhou nele. Desejava que tudo desaparecesse , todas os pensamentos e as memórias.
   Entrou novamente debaixo do chuveiro, a água parecia estar mais quente do que antes. Com o espelho na mão, ela se mutilou, começou pelos pulsos, depois as pernas , o rosto , até que sentada no chão , com a água quente que caía sobre ela, afundou o pedaço na barriga.
 O pequeno rio  vermelho que se formava em torno dela, a fazia  sentir como se tudo estivesse finalmente vazando de dentro dela. A voz repetia "Príncipes não existem , príncipes não existem".
 A música finalmente acabou e tudo ficou em silêncio. Inclusive ela.